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Mudar de vida. Trocar o trabalho na cidade pela vida rural

"Começamos a fazer um furo para procurar petróleo, chegamos a dois quilómetros de profundidade e nada, escavamos mais, passamos os quatro, cinco quilómetros e nada. Outra pessoa chega, abre um furo uns metros ao lado e encontra-o quase à superfície." A imagem ilustra a reposta de Nuno Ribeiro, 44 anos, quando lhe perguntam "Como é que ninguém pensou isso antes?"

Designer de comunicação, depois de 17 anos ligado a um projecto que ajudou a fundar - a ETIC (Escola Técnica de Imagem e Comunicação), em Lisboa - decidiu arriscar e fundou o GIZ, um centro de formação com sede na aldeia de Pedralva, concelho de Vila do Bispo. Cortou com a vida na cidade, onde sempre tinha vivido, e trocou-a por outra bastante mais tranquila, com a mulher e o filho de dez anos. "Foi consensual, estávamos fartos da selva urbana." Já lá vão quatro anos.

O seu projecto oferece uma série de cursos que podem ir da fotografia à escrita criativa. Demasiado à frente para uma área mais ou menos recôndita no sudoeste do país? Talvez não.

Os interessados dividem-se entre os hóspedes da aldeia turística de Pedralva e a população circundante, que não tinha acesso a este tipo de serviços. "Lembro- -me da reacção de miúdos que pegaram pela primeira vez em câmaras", conta, "é reconfortante". Após este primeiro passo na região algarvia, Nuno está também à frente do novo pólo da ETIC, em Portimão. A quem tenha um projecto inovador, aconselha: "Não há que ter medo. A maioria dos obstáculos que as pessoas põem ao viver fora da cidade são fantasmas para se desculpabilizar a si próprias."

apontar Se pensa em investir numa carreira em áreas rurais, há sectores em que a aposta é quase certamente ganha. O turismo rural é uma delas e, a avaliar pelo crescimento, tem sido motivo de migração de muitos portugueses. Palmira Amorim de Sousa e Manuel da Nave Soares são disso exemplo. "Levanto-me e ajudo no pequeno-almoço: preparo doces caseiros, compro o pão, etc. Depois começo a gestão dos quartos, lavandaria, manutenção da piscina, do jardim... Nada é monótono, há sempre imensa coisa para fazer." O dia-a-dia de Palmira ainda se divide entre estas tarefas e o cargo de professora de Educação Visual numa escola em Lisboa. Mas isso acabará quando conseguir a reforma.

Palmira e Manuel conheceram a Quinta dos 4 Lagares por um anúncio no jornal. O sonho de abrir e gerir pessoalmente uma unidade de turismo rural realizou-se dez anos depois. O tempo de espera foi preenchido com projectos arquitectónicos e obras de recuperação. "É um processo demorado - pelos casos que conhecemos, oito ou nove anos - e que implica um grande investimento", explica Palmira. Se valeu a pena? "Sim, sobretudo pela qualidade de vida." Quando chegaram não conheciam ninguém. "Hoje, os vizinhos dão-me feijão, tomate, batatas", conta. "Poder chegar à janela e ver ovelhas a pastar é uma vida completamente diferente."

Já há 25 anos, António e Ana Maria Pinto Ribeiro embarcaram no mesmo sentido. Uma hospedeira da TAP e um engenheiro mecânico deixaram a cidade do Porto, instalando-se definitivamente numa antiga propriedade da família, a Casa de Santo António de Britiande, no concelho de Lamego. O objectivo era dar os primeiros passos no sector do turismo. Hoje, para além do turismo de habitação, têm propriedades agrícolas e produzem vinho e azeite.

Desde 1985, muita coisa mudou. "No início estávamos muito limitados a nível de vias de comunicação. Ir até Vila Real, Viseu ou Porto [as cidades mais próximas] era difícil. Não havia cinema. O teatro era pouco. A assistência médica nunca foi problema, mas também não era a melhor." Para quem estava habituado à vida na cidade, faltava, por exemplo, oferta de bons restaurantes. "Hoje já há um pouco de tudo, com grande qualidade", e os acessos a cidades maiores estão facilitados.

"Há uma geração mais nova, entre os 30 e os 40 anos, que se está a instalar na região. A maior parte na área da agricultura", garante António, justificando o movimento com a UTAD [Universidade de Trás--os-Montes e Alto Douro] mas também com as empresas que vão surgindo e que têm necessidade de técnicos qualificados.

extremo Tomás Pracana tem 25 anos e vive desde Abril em Vila de Rei. "Vim com uns amigos que têm aqui família, encontrei uma casa com renda barata e fiquei." Neste momento, está a construir a sua própria casa num terreno e prepara-se para viver numa caravana enquanto não a termina. Viver numa pequena vila no centro interior de Portugal é o culminar de um percurso que passou por cenários tão distintos como Dinamarca, Luxemburgo, França e Alemanha. "O ideal seria viver puramente da agricultura", conta, para explicar o propósito da sua mudança. "Mas quem não ganha dinheiro não é bem visto, nem mesmo aqui", e por isso continua a trabalhar na área da animação com a ajuda da ligação à internet.

Tirou o curso de Multimédia em Lisboa e portanto sabe como funciona a vida na cidade. "É um ciclo. A própria maneira como a cidade está construída gera problemas", o que o leva a nem pensar em voltar. A auto-sustentabilidade acaba por ser mais fácil assim, defende: há uma série de gastos que se eliminam automaticamente. "Se planto para consumo próprio, a qualidade do que como é maior, e estou menos vezes doente, logo não vou tanto ao médico." O seu caso é o exemplo mais radical de que independentemente da razão - ecológica ou económica, criativa ou vulgar -, a fuga da cidade é, acima de tudo, uma mudança de atitude. "O melhor de tudo é ligar o rádio de manhã, ouvir os problemas no trânsito e respirar fundo", brinca Nuno Ribeiro.


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