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Novas Fronteiras



Quinze por cento da população europeia deita-se todos os dias sem perspectivas de uma vida digna no dia seguinte.

João Wengorovius Meneses

Mais de 70 milhões de cidadãos da União Europeia (UE) vivem em situação de pobreza ou exclusão. Ou seja, 15% da população europeia deita-se todos os dias sem perspectivas de uma vida digna no dia seguinte.
Esta é a Europa que celebra esta semana cinquenta anos de vida. Conseguiu paz e crescimento económico mas não foi capaz de assegurar a coesão social. Na celebração do seu aniversário, a Europa não pode esquecer que “combater a pobreza é uma obrigação moral numa sociedade que se quer respeitar a si própria”, deve voltar a responder “sim” à pergunta “é possível mudar a sociedade?”. Só há um destino possível para a Europa: reencontrar um sentido humanista para o desenvolvimento.
Em 2000, o Conselho Europeu de Lisboa definiu como objectivo estratégico para a UE “tornar-se na economia baseada no conhecimento, mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e com maior coesão social”.
A inovação foi então definida como factor chave para o crescimento económico e para a coesão social foi agendada a reforma do Modelo Social Europeu. Mais do que de reformas, do que a coesão social depende é de inovação, de novas estratégias de resposta a novas e antigas formas de exclusão. Quais? É a pergunta a que urge responder.
Vejamos o caso de Portugal. Sabe-se que 20% da população portuguesa vive em situação de pobreza ou exclusão. Mas não se conhece nenhum levantamento das necessidades dos diversos grupos em risco e das respostas dadas por parte do sectores público, privado e do terceiro sector.
Só da parte das respostas dadas pelo Estado, estão em curso os seguintes planos que visam a inclusão ou a sustentabilidade social: Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) 2006-2008, Plano Nacional de Emprego 2005-2008, Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiências ou Incapacidade 2006-2009, Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) 2006-2009, Plano para a Integração dos Imigrantes e o Plano de Implementação da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável 2005-2015, aos quais se deverão acrescentar os diversos programas financiados directamente pelo Fundo Social Europeu e, em breve, os programas operacionais do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) 2007- 2013. Mas estes planos foram definidos com base em que diagnóstico de necessidades? E como se articulam com as respostas dadas pelo terceiro sector e pelas autarquias?
Um mapa nacional das necessidades e respostas sociais permitiria a articulação dos planos de acção de todos os actores envolvidos nas acção social.
O diagnóstico a ser levado a cabo pela Rede Social (cujos resultados se aguardam) é importante, mas não envolve todos os actores sociais e a Carta Social dá uma boa perspectiva dos equipamentos de resposta mas tem a limitação de que as respostas não se esgotam nos equipamentos.
Para além da ausência de diagnósticos também é raro avaliar o impacte das várias soluções de resposta possíveis. A este nível, foi publicado recentemente um interessante “Estudo de avaliação do sistema do microcrédito em Portugal”. O estudo assegura que também em Portugal o microcrédito é uma eficaz e competitiva ferramenta de combate à pobreza (embora ainda sem expressão).
Amanhã, Muhammad Yunus, pai do microcrédito e Prémio Nobel da Paz em 2006, estará na Gulbenkian para uma conferência. Como o próprio disse: “Quando se planta a melhor semente da árvore mais magnífica num vaso, obtém-se apenas uma réplica dessa árvore em miniatura. As pessoas pobres são como bonsais. Não há nada de errado com as suas sementes. Simplesmente, a sociedade nunca lhes deu espaço para crescerem. Tudo o que é necessário para as retirar da pobreza é criar um ambiente propício. No dia em que estas consigam usar plenamente toda a sua energia e potencial, a pobreza vai acabar muito depressa.”
Se, em 2010, a UE deseja celebrar o Ano Europeu contra a Pobreza e a Exclusão Social terá de tomar medidas hoje. Novas medidas, claro, para novas fronteiras sociais.


in Diário Económico, João Wengorovius Meneses, Gestor nas ONG Chapitô e TESE

Quem Paga a Festa?

O espertalhão Warren Buffett que, sendo o homem mais rico do mundo, sabe bem o que é uma paródia despediu-se dos mercados anunciando o que já toda a gente sabia: “A festa acabou”. Acabou? Perguntarão muitos para quem ela nem sequer tinha começado. Ingénuos. Serão eles e não o senhor Buffett que a vão pagar.

Outro que sabe de festas é Alan Greenspan. Reformado do Banco Central americano dedica-se agora a atormentar os outros. Veterano na gestão de crises afirmou há dias que a actual pode ser a pior desde a II Guerra Mundial. Será que o mago descobriu na bola de cristal aquilo que meio mundo político e académico anda à procura? Bom, é que se for verdade a festança vai ficar-nos pelos olhos da cara.

A comparação é inevitável, embora o senhor Greenspan cautelosamente a tenha evitado. Sem o mencionar, estava a referir-se à ‘grande depressão’ iniciada em Outubro de 1929, o primeiro “acontecimento verdadeiramente mundial”, segundo o historiador JMRoberts. Numa perspectiva económica foi a maior tragédia do século passado e sabemos quanto custou.

Sem ser exaustivo, para não assustar, custou 30 milhões de desempregados e uma quebra de rendimento nacional só nos Estados Unidos de 39%. Demorou sete anos a controlar e atingiu o pico três anos depois do seu início, em 1932. Dez anos depois, em 1939, o comércio internacional ainda era 50% inferior ao existente no início da crise. Foi nesse ano que Adolf Hitler decidiu dar cabo do resto.

É disto que o senhor Greenspan está a falar? Ninguém sabe, a começar por ele. E esse é um dos problemas da crise financeira revelada em Agosto do ano passado. Todos os dias aparecem novos cálculos sobre as perdas originadas no chamado «sub prime». Nos Estados Unidos variam entre 750 mil milhões de dólares e um montante três a quatro vezes superior. É um rombo de dimensão histórica nos activos das famílias americanas, que serão as primeiras vítimas.

Somemos a isto a falência de dois bancos, dificuldades graves em muitos outros, permanentes injecções de liquidez para evitar o colapso, 19 mil despedimentos já anunciados em apenas duas instituições financeiras, recessão nos Estados Unidos e inflação em alta nos dois lados do Atlântico. Uma mistura explosiva que torna ainda mais incerto determinar a gravidade da crise e a respectiva duração.

Há uma garantia. Será uma grande e dolorosa ressaca de um festim que misturou dinheiro à descrição, crédito fácil, ausência de controlo de risco e de supervisão. Outra. Vai afectar-nos mais a nós, que não temos nada a ver com o «sub prime», do que ao senhor Buffett.

in EXPRESSO, Luís Marques

Plano Tecnológico: Zorrinho desenho dos principais clusters portugueses pronto no final do ano

O coordenador da Estratégia de Lisboa, Carlos Zorrinho, espera ter até ao final do ano um "esboço" das principais apostas da economia portuguesa para os próximos anos e dos `clusters` com potencialidade para se tornarem pólos competitivos.

"Ambicionamos ter o desenho da grande matriz da economia portuguesa pronta até ao final do ano", disse Carlos Zorrinho, durante um almoço com jornalistas sobre o novo ciclo da Estratégia de Lisboa (2008-2010).

Carlos Zorrinho lembrou que a regulamentação para a estratégia de eficiência colectiva "está na sua fase de finalização", pelo que espera "ter definidos quais os principais `clusters` e sectores com ambição de se formar como pólos competitivos" à escala global.

O sector da Energia e o do Turismo são alguns dos sectores a que Zorrinho reconhece "particulares competências e capacidades óbvias" para que Portugal se afirme globalmente como pólo competitivo, mas a área da saúde tem também potencialidade.

"Sabemos que o sector da saúde se está a organizar no sentido de criar um plano de acção que lhe permita qualificar-se como um pólo de tecnologia", exemplificou.

De acordo com o Zorrinho, o objectivo do governo é "facilitar dinâmicas na sociedade civil em cinco ou seis áreas, para se afirmarem como pólos competitivos".

"Os sectores automóvel, aeronáutico, da moda, têxtil e do calçado também podem ser competitivos. O jogo neste momento não está fechado, está aberto. Não queremos à partida limitar que ocorram dinâmicas da sociedade civil, nem nos podemos auto-limitar", disse.

Relativamente ao plano tecnológico, o responsável sublinhou que "está em velocidade de cruzeiro", fruto de uma maior exigência dos cidadãos e concorrência entre empresas e adiantou que os planos tecnológicos da Justiça, Saúde, Redes e Estruturas já estão em elaboração, sem contudo avançar pormenores.

Mas um dos maiores desafios nos próximos meses "é preparar o país para aproveitar a onda de recuperação a nível internacional" assim que a conjuntura internacional melhorar, defendeu.

Por outro lado, para a Europa, Zorrinho defendeu sobretudo a necessidade de alcançar em 2010 a liderança "numa área-chave em termos globais": a das alterações climáticas e energia.

"A nossa agenda é a do pós-petróleo, pós-biocombustíveis, é a das energias renováveis, de nova geração. O facto de limitar as emissões à indústria europeia pode diminuir um pouco a competitividade nos primeiros anos, mas no futuro pode lançar uma nova indústria das energias alternativas", disse.

Questionado sobre a aprovação do princípio de uma União para o Mediterrâneo, que incluirá os Estados-membros da União Europeia e os estados costeiros que não fazem parte dela, Zorrinho é peremptório: "Se se tratar de uma acção concertada do ponto de vista político e económico, com uma vertente comunitária forte, esta é claramente a dimensão externa da Estratégia de Lisboa e a primeira experiência concreta".

JMG

in RTP, LUSA/FIM

“Memória e Criatividade são duas faces necessárias ao desenvolvimento durável" Gonçalo Byrne, Arquitecto

Consumismo e endividamento

Um número significativo de portugueses, obcecados pelo consumo, vive em situação de sobreendividamento ao longo de toda a vida

Nas duas últimas décadas o consumismo tornou-se uma doença em Portugal, levando a um endividamento recorde das nossas famílias. Na zona Euro apenas a Holanda nos supera no grau de endividamento dos particulares, ao mesmo tempo que a dívida das empresas atingiu o nível mais elevado dos países da zona, fazendo do endividamento um problema preocupante do nosso país.

Em menos de duas décadas, o peso das dívidas no rendimento disponível passou de 19,5% em 1990 para 124% em 2006, enquanto a taxa de poupança caiu de quase 20% para 8,3% apenas: a mais baixa da União Europeia.

O fenómeno não é só nosso, verificando-se também em países ricos como os EUA, a Inglaterra e a Holanda, e bem assim em Espanha; mas tornou-se particularmente preocupante entre nós. Uma parte muito elevada do endividamento das famílias portuguesas consiste em crédito hipotecário para pagar a habitação, mas o crédito ao consumo representa também uma porção importante. E, à semelhança do que sucede no país vizinho, um número significativo de portugueses, obcecados pelo consumo, vive em situação de sobreendividamento ao longo de toda a vida.

Como nota Octávio Uria, professor de Sociologia da Universidade Juan Carlos de Madrid, muitas famílias endividam-se hoje sem necessidade imperiosa, e apenas para satisfazer o desejo de possuir bens a que antes não tinham acesso e que pensam que lhes dão uma melhor posição social. Antes, estes casos eram raros, mas hoje, especialmente nas gerações mais jovens, a ânsia de comprar tornou-se uma autêntica doença ou «addiction», como a droga, a que não resistem, e que as leva a adquirir sem se pôr o problema de saber como vão pagar, fazendo simplesmente aumentar o volume de crédito malparado. Em Espanha, cerca de metade dos jovens consome em excesso, sem se preocupar em poupar, recorrendo ao crédito para depois passarem a vida num estado permanente endividamento.

Não dispomos de dados semelhantes para o nosso país, mas aqueles que possuímos mostram também que há cada vez mais gente nessa situação. Como alguém disse, já se não constroem catedrais, mas multiplicam-se os centros comerciais, ou templos do consumismo, que constituem cada vez mais lugares de atracção, sob a pressão de uma publicidade agressiva e por vezes enganadora!

in EXPRESSO, Valentim Xavier Pintado, Professor da FCEE- Católica

Fujitsu cria 300 empregos qualificados

Empresa japonesa expande em 2008 centro de atendimento de Lisboa que dá suporte a 106 países e 13 línguas
A Fujitsu Services vai investir 10 milhões de euros em 2008 na ampliação do Centro de Competências de Service Desk de Lisboa que vai passar dos actuais 200 para 500 colaboradores. A parte de leão deste investimento (80%) será canalizado para melhoria de recursos humanos, incluindo salários, formação, recrutamento e gestão, sendo o restante aplicado na adaptação das actuais instalações do Green Park em Lisboa.

Em cada um dos anos subsequentes a empresa projecta investir mais 4,2 milhões de euros na formação contínua e desenvolvimento de competências específicas. “Vamos criar valor e formar quadros de elevada qualificação tecnológica”, considera Andrew MacNaughton, director-geral da Fujitsu Services para a EMEA (Europa, Médio Oriente e África).

O centro da Fujitsu em Lisboa presta serviços de suporte nas áreas de aplicações e infra-estruturas de tecnologias de informação a cerca de 40 mil utilizadores (em 13 línguas de 106 países), de grandes empresas como a Reuters ou a BP. Para assegurar uma cobertura 24 horas por 7 dias da semana, funcionará em articulação com centros Fujitsu da Malásia e dos EUA. “As equipas são polivalentes e de diversas nacionalidades, devendo a equipa portuguesa representar cerca de 80%”, refere Andrew MacNaughton, director-geral da Fujitsu Services para a EMEA (Europa, Médio Oriente e África), adiantando que têm sido recrutados muitos emigrantes portugueses de segunda geração que têm a vantagem de ser fluentes na língua do país de acolhimento. “O domínio da língua é fundamental de forma a conseguirem uma compreensão e resolução rápida dos problemas dos utilizadores”, salienta o dirigente da Fujitsu Services.

Além da apetência dos portugueses para falar diversos idiomas, a escolha do nosso país para instalar este centro «nearshore» (deslocalização para perto, por oposição ao «offshore», para a Índia ou China) deve-se, segundo Andrew MacNaughton, ao custo mais reduzido da mão-de-obra portuguesa e à sua capacidade em “ integrar rapidamente equipas de trabalho”. E também destaca a “proximidade geográfica com os grandes centros de decisão europeus” e o “forte alinhamento cultural”. Até agora, os centros de suporte da Fujitsu situavam-se na Holanda, sendo a estratégia da empresa apostar em Portugal e na Irlanda do Norte, por ser o local escolhido para a prestação de serviços à Administração Pública do Reino Unido (a qual não vê com bons olhos a deslocalização de serviços públicos para países terceiros). Entretanto, a empresa estuda uma terceira localização no Leste europeu.

Andrew MacNaughton refere, por outro lado, que o «nearshore» está a recuperar terreno ao «offshore». “Alguns centros de «helpdesk» que tinham sido deslocalizados para a Índia estão a voltar para a Europa pelo facto de os indianos, apesar de serem fluentes em língua inglesa, terem um sotaque que muitas vezes não é entendido pelos britânicos”.

Por outro lado, Andrew MacNaughton mostra-se agradado com o desempenho comercial da subsidiária portuguesa da Fujitsu Services, que tem ganho importantes contratos na área do retalho e da Administração Pública. Embora manifeste preferência pelo crescimento orgânico, não descarta a possibilidade de acelerar a expansão em Portugal através de alguma aquisição táctica, a exemplo do que aconteceu recentemente na Alemanha com a aquisição da TDS e em França com a compra da GFI. “Temos tido um crescimento médio nos últimos três anos de 17%, sendo 12% orgânicos e os restantes 5% por aquisições”, refere.

Sobre as tendências actuais do mercado, o director-geral da Fujitsu EMEA observa que o crescimento do BPO (Business Process Outsourcing, ou externalização de processos de negócio) na Europa está aquém das expectativas dos analistas. “É no «outsourcing» de tecnologias de informação que observo mais oportunidades”, observa, considerando que em Portugal o mercado vai expandir-se no sector bancário como resultado de eventuais consolidações e também na área da saúde.

in Expresso, João Ramos

APOSTAR NAS PESSOAS

80%
dos 10 milhões que a Fujitsu Services vai investir em Portugal em 2008 serão gastos nos recursos humanos, nomeadamente na qualificação e valorização das competências dos 500 colaboradores

Atocha


Foi há quatro anos.

Chegou a Quarta Vaga

Alvin e Heidi Toffler dizem que definir o que é ‘ser humano’ vai ser a questão mais polémica

“Saber o que significam as palavras Ser Humano” será o grande desafio que temos pela frente. Esta é a opinião do futurista Alvin Toffler, que esteve esta semana em Lisboa, acompanhado da sua inseparável mulher e companheira intelectual Heidi, a convite da Ordem dos Biólogos para discutir a importância da bioeconomia - uma nova realidade “que faz parte de uma quarta vaga de transformação da sociedade e da economia”.

Conhecido por ser um antecipador de mudanças que vão ocorrer, Toffler é um visionário, que nos anos 70 do século passado já afirmava que o mundo ia ser controlado por computadores quando ninguém falava de «bites» e «bytes». A Toffler se deve, por exemplo, a antecipação do declínio da vida familiar, da aceleração do ritmo de vida, da diversificação de informação, do medo do terrorismo, da procura de micronichos - que substituirão os mercados de massa.


A era da diversidade

Em entrevista ao Expresso, o autor de a ‘A Revolução da Riqueza’ (2006) volta a surpreender. Aos 79 anos, com um invejável espírito aberto e global, fala com muita lucidez não só do presente mas sobretudo sobre o futuro. Um futuro onde “a economia não pode ser separada dos factores sociais, políticos, culturais e religiosos” e que, na sua opinião, será marcado pela grande diversidade de escolhas, de famílias, de produtos. “Caminhamos cada vez mais para uma era marcada pela diversidade”, diz este analista que considera que “existe uma série de assuntos intermédios que vão estar na nossa agenda nas próximas décadas, tais como a energia e o desafio da religião”.

Porém, o grande desafio que vamos ter recairá na nossa escolha sobre o que significam as palavras ‘Ser Humano’. “Temos tecnologias, aplicações e outros factores que vão colocar em causa a nossa definição sobre o que isso é. E eu acredito que vai dar origem a confrontos globais sobre o uso das tecnologias, que podem na verdade mudar as características das nossas espécies. Isso é a maior batalha que vamos atravessar”.

Numa outra escala de inquietude vem ainda a dessincronização das instituições que fará com que o progresso económico esteja a ser comprometido. Segundo os Toffler, “não podemos ter uma revolução tecnológica sem ter uma revolução social e estrutural”. O que está a acontecer, segundo este casal, é que os modelos institucionais que mantinham a sociedade coesa na fase da era industrial estão a cair e os sistemas burocráticos estão a ser postos em causa.

Autor de ‘O Choque do Futuro’ (1970) , diz que ‘A Terceira Vaga’ (1980) é o livro mais importante que escreveu. Considerado por vários organismos ocidentais como “o futurista mais influente do mundo”,

Toffler é também uma referência no mundo asiático. Na China, por exemplo, está na lista dos 50 homens mais influentes. País onde o seu livro ‘O Choque do Futuro’ é a segunda obra mais vendida de sempre, só perdendo para os discursos do político reformador Deng Xiaoping.

Para terminar, o visionário fala da importância de entendermos as actuais crises (da educação à saúde) de forma interligada e deixa uma crítica aos candidatos à Casa Branca: “Nenhum diz que as crises estão interligadas”, mas confessa que votará em Barak Obama.

Mafalda Avelar


"

Os chineses têm uma política clara e correcta. Entendem a diferença entre a segunda vaga da economia industrial e a terceira vaga da economia do conhecimento e estão a ser capazes de ter as duas ao mesmo tempo.

O grande desafio é saber res- ponder à questão: Quem é que é humano e quem é que não pode ser definido como huma- no por causa da tecnologia e das mudanças genéticas.

O que acontece é que temos empresas que correm e insti- tuições que andam muito devagar e que estão a deitar abaixo a produtividade da economia.

Em termos de educação é esperado que as escolas preparem os jovens para vidas produtivas; mas enquanto os negócios mudam muito rapidamente as escolas mudam muito muito devagar.

O que se está a passar com as novas tecnologias é que o conceito de sociedade de massas está a ficar desactualizado. Na verdade, as pessoas estão a ficar cada vez mais diferentes.

in Expresso

Valores: a cidadania adormecida


No próximo fim-de-semana, cem jovens com menos de 45 anos vão debater, a bordo de um barco que subirá o Douro, sete grandes desígnios para Portugal. O Expresso começa hoje a revelar os documentos, que depois serão entregues a Cavaco Silva

No séc. XIX, no apogeu do Império Britânico, era habitual dizer-se que o Parlamento inglês poderia fazer tudo menos transformar um homem numa mulher. Entre nós, só a partir de 1969 a mulher pôde transpor qualquer fronteira sem autorização escrita do marido.

Na década de oitenta, o então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro tinha o estigma de ser divorciado. O que mudou, primeiro lenta e depois cada vez mais rapidamente, para que o que antes era errado e impossível seja hoje apenas normal?

O sentido e percepção do tempo, a evolução técnica, a globalização, a fragmentação do colectivo, a diluição da autoridade e o relativismo axiológico, são algumas das respostas imediatas que, contudo, não preenchem a ausência de sentido ou diminuem o vazio que vai alastrando pela sociedade, transformando de forma cada vez mais profunda os nossos dias.

Confrontamo-nos hoje com percepções, discursos e racionalidades distintas entre si, as quais criam e promovem no mesmo tempo e espaço várias representações, imagens, linguagens, percepções e valores alegadamente não hierarquizáveis. A imposição externa (religiosa, estadual ou colectiva) de valores coerentes e congruentes fragmentou-se, e o colectivo deu lugar ao primado, cada vez mais subjectivo e autónomo, do eu individual todo-poderoso.

Se esses resultados foram positivos, como se demonstra nos exemplos indicados, tiveram também consequências nefastas. Compartilhamos hoje um espaço que aparentemente vive dominado pelo império do lucro económico imediato e desigual. Esta é, também, a primeira era em que a beleza, a verdade e a justiça não existem como entidades aglutinadoras e verticais, mas apenas como algo parcelar, aprendido, formulado e hierarquizado por sistemas próprios de referências e valores, tão distintos e autónomos entre si como cada uma das liberdades do indivíduo.

Mas se cada cidadão é, só por isso, livre de agir e de “conformar o seu mundo”, essa mesma liberdade de acção pressupõe que seja responsável pelos seus actos, perante si próprio, perante os outros e perante a comunidade onde se integra e na qual exerce a sua liberdade, à qual, por tudo isso pertence inelutavelmente. Somos, por isso, nós com e para os outros.

Nesta nova ordem socioeconómica multicêntrica, construída num quadro de conflitualidade próprio das democracias modernas, o desafio está em encontrar um postulado intercultural, com pluralismo ideológico e religioso que possa sedimentar uma co-existência construtiva eticamente fundada.

Um debate sedimentado e pluridisciplinar é a única alternativa para a reflexão que deve preceder o discurso e a acção.

Um dos caminhos será a procura do valor como espaço simbólico fundado num discurso convincente e por isso aglutinador.

Outro, a reformulação e neocontextualização das virtudes cívicas da justiça, temperança, tolerância, harmonia e equidade.

Uma terceira via seria simplesmente substituir esses conceitos pela pura eficácia ou racionalidade económica.

Contudo, a história ensinou-nos, depois de Nuremberga, que a pura racionalidade utilitária pressupõe e exige uma delimitação baseada em critérios fundamentais, inalienáveis, que não se esgotem no imediato e útil, mas que salvaguardando o indivíduo potenciem também a coesão social.

Se tudo já foi dito, tudo foi feito e nada mais resta do que a “perpétua agonia da indecisão individual”, valerá a pena a discussão, o simples gesto de começar o caminho descruzando os braços e levantando os olhos para lá de cada espelho. Talvez sim se, além dos grandes princípios, mas com base neles, procurarmos as simples boas práticas e concretizarmos os pequenos nadas que, juntos entre si, podem transformar muitos quotidianos. Afinal, o mesmo tijolo que hoje eleva os muros que nos vão separando, pode ser removido para abrir algumas janelas, construir pontes e talvez trazer algum equilíbrio à nossa triste e bela cidade, suavemente adormecida.

in Expresso, Paulo Duarte Teixeira, Juiz de Direito e Coordenador do Grupo Valores do ‘Novo Portugal - Opções de uma geração’
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