Novos Povoadores®

Apoiamos a instalação de negócios em territórios rurais

Cerimónia de adesão do Município de Alfândega da Fé

O stress da cidade está a deixar uma marca no cérebro das pessoas

O Metro à hora de ponta é só um exemplo do stress vivido na cidade, que infelizmente não acaba em cada experiência que se tem ou numa noite bem dormida. Foi isso que cientistas verificaram ao comparar pessoas que vivem em cidades com pessoas que vivem em zonas rurais. As primeiras reagem de uma forma diferente a experiências com stress. Esta diferença está marcada no cérebro, é mais profunda para quem nasceu e cresceu na cidade e está relacionada com doenças mentais como a esquizofrenia. O estudo foi publicado esta quarta-feira na revista Nature.

Há cada vez mais pessoas a viver em cidades (Rui Gaudêncio)

“A nossa informação revela efeitos neuronais em pessoas que crescem e habitam em zonas urbanas quando enfrentam situações de stress social”, conclui o artigo escrito por uma equipa do Instituto de Saúde Mental da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.

O efeito da cidade no ser humano está longe de ser uma novidade e sabe-se por estudos descritivos que existe uma maior tendência de doenças mentais nas regiões urbanas. As pessoas têm 21 por cento de probabilidade acrescida de ter problemas de ansiedade e 39 por cento de terem problemas de humor. “Viver na cidade aumenta o risco de depressão e ansiedade e o rácio de esquizofrenia é marcadamente maior em pessoas que nasceram e cresceram na cidade”, escrevem os investigadores Daniel Kennedy e Ralph Adolphs, num artigo de análise da Nature sobre o estudo publicado agora.

Na nova investigação, a equipa liderada por Andreas Meyer-Lindenberg foi analisar o cérebro de alemães que vivem em três contextos diferentes: regiões rurais, regiões urbanas com mais de 10.000 habitantes e regiões com mais de 100.000 habitantes.

Os cientistas aplicaram vários testes de stress social a mais de uma centena de participantes saudáveis. Nos testes, as pessoas tinham que resolver problemas matemáticos ou espaciais em tempo limite e tinham uma pressão acrescida: um feedback negativo dos investigadores.

Os cientistas mediram vários parâmetros fisiológicos e através de imagens de ressonância magnética verificaram a resposta neuronal aos desafios. Os testes conseguiram induzir o efeito de stress nos participantes a nível fisiológico e cerebral mas houve diferenças importantes. A região da amígdala tinha uma actividade maior nas pessoas que viviam em zonas urbanas mais povoadas do que nas que vivam em zonas rurais.

Problemas desde o nascimento

A amígdala é uma região que sinaliza os efeitos negativos e as ameaças do ambiente. Paulo Machado não ficou surpreendido com estes resultados. Para o investigador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “a experiência urbana é particularmente recente” na história do Homem, “é desafiadora” e pode fomentar o “desequilíbrio das pessoas”.

Segundo o especialista, esta resposta dos participantes é coerente face aos desafios que são colocados. “Está adaptada ao nível de stress que é imposto” nas regiões urbanas, disse o investigador, que não tem qualquer relação com o estudo, mas que o considera “altamente confirmatório” do que já se conhecia.

A análise cerebral também revelou que as pessoas que nasceram e cresceram em zonas urbanas tinham uma actividade anormal numa região específica do córtex durante as experiências. Esta região também está associada à resposta durante situações de stress num contexto social.

O que é que as cidades estão a fazer às crianças e aos adolescentes, quando estão nas escolas e mais protegidos de situações de stress? “As provas epidemiológicas sugerem que o efeito máximo acontece durante o nascimento, antes de chegarem aos jardins-de-infância – uma possibilidade é que a culpa seja do stress sofrido pelos pais”, explicou ao PÚBLICO Andreas Meyer-Lindenberg, coordenador da pesquisa.

Mais, o estudo mostra que nestas pessoas há uma ligação neuronal mais fraca entre a região da amígdala e a região do córtex. Esta ligação enfraquecida já era conhecida em doentes esquizofrénicos. Segundo o comentário de Kennedy e Adolphs, isto sugere “que neste circuito podem convergir um risco genético e um risco ambiental para o surgimento das doenças mentais”. Ou seja, se há uma tendência genética para alguém desenvolver algum tipo de doença mental, o ambiente stressante citadino pode dar um empurrão valente.

Esta questão é particularmente relevante para Paulo Machado. “Como nós hoje vivemos maioritariamente em cidades, isto deixa de ser um problema de uma minoria para passar a ser um problema de saúde pública”, explicou. Segundo o investigador, é preciso insistir neste estudos para tentar encontrar as causas directas de problemas que provocam o desequilíbrio e o stress nas pessoas. Um exemplo simples é o dióxido de carbono, que em maiores concentrações e durante largos períodos “aumenta exponencialmente a irritabilidade das pessoas”, disse o investigador português. Os taxistas ou condutores de transportes públicos estão especialmente vulneráveis a esta situação, que deve ser combatida. Já para a diminuição do stress, é preciso mudar o modo de vida, as rotinas, os horários, atitudes, comportamentos, o que é mais difícil.

“Nós não devemos olhar para estes estudos e dizer que alternativa é a não cidade. A cidade é uma das melhores invenções do homem”, disse. “O que precisamos é de uma verdadeira transformação do modo de vida urbano.”

in Público, Nicolau Ferreira

EDP avança hoje com projecto para incentivar novas famílias em Trás-os-Montes



A EDP, os Novos Povoadores e a Câmara de Alfândega da Fé vão avançar hoje com um projecto piloto para incentivar a instalação de novas famílias naquele concelho transmontano.
Segundo disse hoje à Lusa, a directora da Fundação EDP, Isabel Marques, esta iniciativa assenta num projecto piloto que está a ser instalado na região do Baixo Sabor, onde se encontra em fase de construção um grande empreendimento hidroeléctrico.

«O projecto tem por objectivo atrair casais que pretendam construir uma nova vida nesta região, que tem perdido população, e acreditamos que há cada vez mais pessoas que pretendem mudar a sua vida para o interior do país», acrescentou a responsável.

A criação de condições para reter jovens e atrair novos residentes figura no topo da lista de preocupações, a par do emprego e do desenvolvimento turístico da região.

«O Baixo Sabor tem sido uma região piloto em vários projectos socais, económicas ou culturais promovidos pela EDP, dado o facto de haver uma barragem que está em fase adiantada de construção», sublinhou Isabel Marques.

As famílias candidatas à mudança, deverão obedecer a alguns critérios que garantam «o sucesso do novo projecto de vida».

«Para atender a esta necessidade, a EDP recorre à experiência dos Novos Povoadores, entidade, que tem vindo a desenvolver o conceito de repovoamento das zonas mais despovoadas do país, através da migração de famílias urbanas, a qual vai apoiar a mediação às famílias em mudança, em estreita articulação com a Câmara», concluiu a responsável pela Fundação EDP.

A iniciativa, após formalizada, visa atender a uma das principais expectativas detectadas pela EDP nos inquéritos de opinião realizados nas regiões abrangidas pelas novas barragens tendo em vista área do território menos povoadas.

O projecto será financiado pela EDP, no âmbito do conjunto de iniciativas de promoção de desenvolvimento nos concelhos onde desenvolve novos investimentos hídricos.

Lusa/ SOL

EDP avança hoje com projecto para incentivar novas famílias em Trás-os-Montes



A EDP, os Novos Povoadores e a Câmara de Alfândega da Fé vão avançar hoje com um projecto piloto para incentivar a instalação de novas famílias naquele concelho transmontano.
Segundo disse hoje à Lusa, a directora da Fundação EDP, Isabel Marques, esta iniciativa assenta num projecto piloto que está a ser instalado na região do Baixo Sabor, onde se encontra em fase de construção um grande empreendimento hidroeléctrico.

«O projecto tem por objectivo atrair casais que pretendam construir uma nova vida nesta região, que tem perdido população, e acreditamos que há cada vez mais pessoas que pretendem mudar a sua vida para o interior do país», acrescentou a responsável.

A criação de condições para reter jovens e atrair novos residentes figura no topo da lista de preocupações, a par do emprego e do desenvolvimento turístico da região.

«O Baixo Sabor tem sido uma região piloto em vários projectos socais, económicas ou culturais promovidos pela EDP, dado o facto de haver uma barragem que está em fase adiantada de construção», sublinhou Isabel Marques.

As famílias candidatas à mudança, deverão obedecer a alguns critérios que garantam «o sucesso do novo projecto de vida».

«Para atender a esta necessidade, a EDP recorre à experiência dos Novos Povoadores, entidade, que tem vindo a desenvolver o conceito de repovoamento das zonas mais despovoadas do país, através da migração de famílias urbanas, a qual vai apoiar a mediação às famílias em mudança, em estreita articulação com a Câmara», concluiu a responsável pela Fundação EDP.

A iniciativa, após formalizada, visa atender a uma das principais expectativas detectadas pela EDP nos inquéritos de opinião realizados nas regiões abrangidas pelas novas barragens tendo em vista área do território menos povoadas.

O projecto será financiado pela EDP, no âmbito do conjunto de iniciativas de promoção de desenvolvimento nos concelhos onde desenvolve novos investimentos hídricos.

Lusa/ SOL

A piranha autárquica

Há um drama no memorando assinado com o FMI e a UE.
O poder autárquico vai ser atirado às piranhas mas ninguém vai querer meter a mão no assunto para não ficar sem ela. Ninguém duvida que este é um país onde concelhos e freguesias nasceram com a generosidade viçosa dos cogumelos. Serviram para tudo, sobretudo para criar clientelas musculadas e bajuladoras. Os novos regedores valem votos e gerem interesses para os quais os líderes partidários olham envergonhados mas que, no momento da verdade, não renegam. Não admira que, tal como a justiça, deva ser um alvo de reforma. Há um problema. Reformar as autarquias não trará uma digestão fácil a quem tiver de a fazer. Causará, muito provavelmente, alguma congestão política. Reformar as autarquias é decisivo. Mas requer uma gestão prudente, num país que se inclinou demasiado para o litoral.

Por isso não pode ser feita por pura lógica matemática ou por excelso interesse partidário. São os abusos que estão em causa, não os princípios. A menos que a ideia do FMI e da UE seja desertificar Portugal e transformá-lo numa grande Lisboa com zonas adjacentes para as praias e o golfe. Reformar a teia autárquica requer criar verdadeiros pólos no interior que não sejam apenas centros de emprego mas verdadeiros íman para o repovoamento agrícola e social, que será fundamental num novo Portugal. A reforma autárquica não pode ser uma acção de contabilidade e de engenharia financeira supervisionada pelo FMI e pelos burocratas que em Bruxelas destruíram, com a ajuda amiga da ASAE, metade dos restaurantes populares do interior. Terá de ser conciliada com a visão de D. Sancho I, o Povoador.

in Negócios, Fernando Sobral

Empreendedores-empresários-ativistas procuram-se!

As figuras públicas sem dúvida que são impulsionadoras de novas tendências. Se há portugueses que imitam os seus ídolos ao pintar as unhas dos pés de preto ou a dar um nome diferente a um filho, também há aqueles que observam de perto os empresários nacionais e a forma como contribuem para um país melhor.

Todas as empresas têm responsabilidades socias, nem que seja apenas em teoria e, é impossível dissociar o empresário da sua empresa. Isto é, o comportamento social da empresa influencia a imagem do empresário e vice-versa. Mas atualmente há empresários cada vez mais ativistas fazendo jus à teoria que têm em papel.

Ou seja, não são apenas empreendedores nas suas empresas como também o são na vida em geral. Temos como exemplos, Francisco Pinto Balsemão, que organizou o Salão de Mobilidade Sustentável, em que será analisada a evolução recente das marcas no que diz respeito aos carros elétricos e à instalação de infraestruturas que possibilite a concretização da mobilidade elétrica.

Belmiro de Azevedo através do programa "Porto Seguro" foi um dos modelos de referência aos jovens, promovendo o empreendedorismo e fomentando a necessidade de formação; Rui Nabeiro que se dedica a diversas causas sociais tendo uma intervenção ativa na sociedade; entre outros.

Estes empreendedores-empresários-ativistas são fundamentais como exemplos à sociedade em geral e como forma de "obrigar" outras empresas/instituições públicas ou privadas a seguirem o mesmo caminho.

in Expresso, Ana Campos

Projecto Novos Povoadores é alternativa à vida na cidade

«Muitas pessoas que vão para o interior já não regressam à cidade», garantiu à TSF um dos membros do projecto Novos Povoadores, que orienta quem quer viver com menos custos e mais qualidade de vida fora das metrópoles.

Um grupo de pessoas que integra o projecto de repovoamento de zonas rurais, denominado por Novos Povoadores, tem, desde há alguns anos, rumado ao interior desertificado de Portugal para ganhar qualidade de vida.

Em declarações à TSF, Frederico Lucas, um dos membros deste projecto, confirma que alguns dos efeitos da crise estão a mobilizar as pessoas para mudar de vida.
«Existe mais gente a manifestar interesse em mudar para o interior do país há medida que os encargos sobem e os rendimentos descem na cidade», disse.

Aliás, sublinha o "povoador", o movimento de migração está a gerar um «fenómeno». «A maioria das pessoas que vão para o interior já não regressam à cidade. Apesar de terem nascido e vivido nas áreas metropolitanas querem, agora, outro estilo de vida», explica.
Frederico Lucas, do projecto Novos Povoadores, considera positiva a chamada de atenção do Presidente da República, que, no discurso das comemorações do 10 de Junho, alertou para a desertificação do interior de Portugal, sublinhando as potencialidades das terras do interior.

«Foi discurso importante para as pessoas que estão a ir para o interior e que o fazem com algum receio. Elas olham com esperança para esta mudança, mas têm receio porque é um modelo de vida que ainda está a nascer em Portugal. E, claro, questionam se é bom», conclui.

in TSF

Empreendedores-empresários-ativistas procuram-se!

As figuras públicas sem dúvida que são impulsionadoras de novas tendências. Se há portugueses que imitam os seus ídolos ao pintar as unhas dos pés de preto ou a dar um nome diferente a um filho, também há aqueles que observam de perto os empresários nacionais e a forma como contribuem para um país melhor.

Todas as empresas têm responsabilidades socias, nem que seja apenas em teoria e, é impossível dissociar o empresário da sua empresa. Isto é, o comportamento social da empresa influencia a imagem do empresário e vice-versa. Mas atualmente há empresários cada vez mais ativistas fazendo jus à teoria que têm em papel.

Ou seja, não são apenas empreendedores nas suas empresas como também o são na vida em geral. Temos como exemplos, Francisco Pinto Balsemão, que organizou o Salão de Mobilidade Sustentável, em que será analisada a evolução recente das marcas no que diz respeito aos carros elétricos e à instalação de infraestruturas que possibilite a concretização da mobilidade elétrica.

Belmiro de Azevedo através do programa "Porto Seguro" foi um dos modelos de referência aos jovens, promovendo o empreendedorismo e fomentando a necessidade de formação; Rui Nabeiro que se dedica a diversas causas sociais tendo uma intervenção ativa na sociedade; entre outros.

Estes empreendedores-empresários-ativistas são fundamentais como exemplos à sociedade em geral e como forma de "obrigar" outras empresas/instituições públicas ou privadas a seguirem o mesmo caminho.

in Expresso, Ana Campos

Mergulho matinal!



Na Irlanda do Norte, há um labrador retriever que todos os dias quando acorda pelas 6 da manhã, o seu passeio predilecto é ir até ao porto da pequena cidade onde vive, e depois mergulha e nada com um golfinho ficando com ele cerca de 10 minutos a deliciarem-se na água. Entretanto quando a 1ª embarcação sai do porto, o golfinho persegue essa embarcação para ir tomar o pequeno almoço (peixe atirado do barco) e o labrador regressa para a margem para o seu dono.
O labrador faz isto desde os 8 meses, e tem agora 4 anos de idade!

in Sérgio Briosa

Virgílio, pastor, fala do País


Tem 37 anos, a quarta classe, e gosta de pastorear o seu rebanho em liberdade. A "ruína" de Portugal não lhe é indiferente. Estas são algumas das suas convicções

"Eu gosto disto. É como lhe digo, isto é diferente. A gente não anda ao mandado de ninguém. Agarrei-me a isto, agarrei-me ao gado.

A trabalhar para um patrão ganha-se muito melhor dinheiro. E com outras condições. Pega-se às oito da manhã e larga-se às cinco. Está a gente livre. Tem-se sábados, dias santos, feriados. Tem-se subsídio de férias e de Natal. Eu, na época da ordenha tenho de pegar às seis da manhã, quando não é às cinco e meia. E às vezes à meia-noite ainda lá ando. São dois dias num. Então trabalhar para um patrão não é maior sossego? Anda-se ao mandado deles, não é? Mas é um sossego.

Eu não fui assim criado. Fui habituado assim e gosto de fazer o que faço. Não é pelo que se ganha.

O ar puro é diferente. É outra liberdade. Às vezes falam-me que é mais bonito morar numa cidade como a Covilhã ou Lisboa. Eu, se fosse morar para a Covilhã morria logo. Com o ar e o cheiro dos carros e o barulho. Eu sou novo, mas fui criado à moda antiga. O meu pai tem 86 anos. Trabalhou sempre na agricultura para criar os filhos. Éramos nove irmãos. Sou o mais novo de todos. Somos da Bouça. Foi assim, o gado foi passando, passando, e já cá estou há 20 anos. Queriam vender o gado e eu disse que ficava com ele. Antigamente tinham muitos filhos e criavam-nos todos. Agora é um ou dois e já é muito.

É por isso que isto agora está como está. Isto está na ruína porquê? Nem numa enxada sabem pegar. Não sabem lavrar um bocadinho de terra nem cuidar de um animal. E onde é que se produz a maior parte dos alimentos? É do gado e da terra é que vem tudo. A mim dizem-me "tu cheiras a cabra". É verdade! Mas de onde é que vem tudo? É dos computadores ou da internet? A malta de agora julga que vem tudo do ar. Se acabarem os rebanhos e ninguém cuidar da terra como é que vai ser?

Aqui no Morgadinho era só cabradas. Agora ando cá eu... Se acabar tudo, quero ver como vão comer. Por isso é que está tudo a ficar caro como o lume. Portugal não produz nada. Tem de vir dos estrangeiros. Quem quer o produto tem de o pagar bem caro. Quem é que quer cuidar dos rebanhos hoje em dia?

Gosta mais de nós quem vem de fora. Os turistas gostam de falar connosco e de ver o gado. Os da terra ainda fazem pouco. "Cheiras a cabra". Mas o queijo, os iogurtes e a manteiga, o leite e as carnes não nascem do céu. Tem de haver quem tome conta do gado para haver produção. E isto dá trabalho a muita gente. Doutores e fábricas e tudo.

A juventude agora, acho bem, não sou nada contra isso, só quer é estudar. Mas antigamente, os velhos e os garotos passavam o dia a trabalhar. Eu com cinco, seis anos vinha para a quinta trabalhar depois da escola. Se não fosse... carrega o macho [levanta o cajado como se fosse bater em alguém].
A juventude de agora não sabe trabalhar na terra porque não lhes ensinam. Se toda a gente tivesse um quintalzinho e aprendessem era bom. Se soubessem produzir, isto se calhar não estava assim. Isto está mau para toda a gente.

Agora aqui, nas Cortes e na Bouça há cinco pastores. Antigamente havia uns 100. Em acabando eu, isto acaba por completo. Nem para os turistas tirarem uma fotografia aqui na Serra.

Antigamente, nas Cortes e na Bouça tudo tinha gado e tudo se governava com o gado. Agora está a acabar. Porque também põem certas condições que a gente não se consegue aguentar. Verdade seja dita. Querem que a gente ponha ordenha mecânica. A gente ordenha tudo à mão, é o antigo. Então, no pavilhão onde eu tenho o gado, nem luz sequer tenho... Só um gerador para dar uma luzita para a gente ver qualquer coisa. Para botar uma ordenha mecânica é preciso um gerador muito valente ou electricidade normal, pronto. E onde é que a gente tem condições para isso? Para isso mais vale acabar com o gado. Muita gente acabou com o gado pelas leis que põem. No inverno temos de ter o gado dois meses num lado, dois meses no outro. Tínhamos que ter um pavilhão de ordenha em cada quinta, não? Mas se nem um carro lá chega... Eu daquela quinta além para baixo tenho que acarretar o leite às costas até à estrada. E é agora, que a estrada é nova. Antes levava um cântaro de 35 litros às costas e outro na mão até ao povo. Ali da Malhada do Salgueiro e da Malhada da Fonte, levava o cântaro às costas por aquela vereda. Por isso é que estou velho. Fiz isso durante 10 anos. Tínhamos que ter a ordenha feita às 10 da manhã para levar o leite a tempo de ir para a fábrica. Se não, ia à vida...

Muita gente acabou com o gado. Os velhotes não estão para isso. E os novos também não querem. E eu, qualquer dia, acabo também. Eu não tenho frigorífico. Ligo-o aonde? Até lhe sei responder... Aos tomates do chibo?

Quem põe estas leis julga que aqui é como no Alentejo em que conseguem ali ter duas ou três mil ovelhas dentro de uma quinta. Mas isto aqui não é o Alentejo, é a serra. É pedras e frio. Quem põe essas leis devia andar aqui uma semana a tomar conta do gado, no inverno. Às vezes a gente até chora, com o temporal. A gente chega a casa a pingar e a tremer com frio. Eu uso safões, que é uma coisa de pelo de cabra para pôr nas pernas. Gosto mais do pêlo de cabra porque escorre a água, enquanto que a lã da ovelha ensopa e fica pesada. Uso botas de borracha e fato de oleado. E uma capa destas que às vezes, em chegando ao curral, fica oito dias a enxugar.

Continuei com isto e gosto. Não é pelo produto. Há anos em que não se tira nada. Os cabritos é uma coisa muito sensível e que leva muito caminho... Morrem muito. O borrego é muito mais resistente. Se nascer bom, ao fim de um mês está um borrego do caraças, enquanto que o cabrito é preciso dois e três meses e às vezes encanita-se. Tanto que o leite da ovelha é muito mais forte e muito mais caro. O queijo de ovelha custa três contos o quilo e o da cabra custa um conto e tal. Vá que isso agora melhorou um bocadinho. Antes pagavam 25 cêntimos por litro. Era uma pechincha. Agora é que subiu um bocadinho. Tenho poucas ovelhas, só 15. Eu gosto mais da cabra. A ovelha só quer erva. Anda um bocado, mas se não enche a barriga de erva anda o dia inteiro a berrar, mé-mé. A cabra em andando um bocado no lameiro já fica contente, quer é roer mato. Ela própria sai do lameiro. Enquanto que a ovelha pode ficar todo o dia a comer erva. E aqui há pouca. Os nossos terrenos são fracos. Agora há, porque é a primavera. Mas qualquer dia, para o fim de Setembro, já não há nadinha, seca tudo."

in Visão, Paulo Pena
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